Sunday 24 June 2007

não consigo engrenar numa leitura diária dos jornais londrinos e, como nunca, leio a folha
religiosamente. não sei porquê também tenho pensado muitas vezes em quanta coisa tenho pra
dizer mas escrever é sempre uma idéia que contrai os meus músculos. em londres eu já me
acostumei até com o trânsito mas falta agora entender na prática que aqui é a minha vida, e
não adianta ficar esperando o momento em que a casa será melhor ou que eu terei um quarto só
pra mim ou que haverá lugar pra meus livros. mais uma vez, devo me lembrar de que a vida é
agora, não estou ensaiando. ou, se existe tal coisa como um ensaio, posso considerar que já
está mais do que na hora de decretar o fim deste que, digamos então, começou em setembro
quando saí de porto alegre rumo a paris.
porto alegre. mato a saudade assistindo a clichés nos curta-metragens gaúchos disponíveis no
youtube. porto alegre é cliché. é aquela ânsia por ser melhor que as outras, mais bonita que
as outras, mais cultural que as outras, mais rock, mais underground. é todas aquelas
locações exauridas rapidamente na produção audiovisual gaúcha. é guaíba, pôr-do-sol,
ocidente, é ânsia, é casa de cultura e o viaduto da borges sem consequência.
aqui não dá pra reclamar da falta do que fazer. seria impossível esgotar as exposições de
arte em cartaz antes que elas saíssem de cartaz. mas eu já sabia há muito tempo que a
questão nunca foi oferta de passa-tempos, por mais altamente qualificados que eles sejam.
eu tinha começado aqui com a idéia de escrever sem ponto nem vírgula, num jorro, fluxo de
consciência, mas meu formalismo me impede. e até fico meio constrangida quando concedo abrir
mão da trema (caiu, não é?). em contraste com a minha precária performance na língua da minha atual vida isso soa até gracioso. pra quem cora ao deslizar em português, a vida em inglês, por melhor que seja, dá a impressão de que será sempre um arremedo, uma aproximação do que seria a vida. há sempre aquilo que não é possível dizer ou entender, e eu me sentindo como que a personagem de mim mesma. dando o máximo, mas sabendo que o máximo já está de antemão descartado, inatingível. como de fato sempre foi, mas desta vez é um impedimento palpável, limitação que tem causa e nome, e não aquela vaga nuvem caótica e turva, turva. aquela nuvem caótica e turva que sempre me desconsertou.
ainda o mesmo medo louco de que seja possível alcançar.

1 comment:

Angelo B. said...

você ainda é jovem de mais
pra ser a Maria Madureira que tenho/tens em mente...

 
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