Monday 20 August 2007

(mas eu já disse mais de uma vez que não gosto de 'água viva'. é verdade, me irrita, por vezes acho adolescente demais. essa antipatia, no entanto, também tem o papel de disfarce pro meu acanhamento com algumas coisinhas que eu não queria que fossem o tipo de coisa que me faz sentir identificada.)

o discurso transparente

a clarice lispector quando escreveu 'água viva' conseguiu representar muito mais do que o pensamento errático de uma mulher, mas o processo mesmo do pensamento. sem querer cair nas associações baratas, é inevitável dizer que ali tudo é fluido como água corrente, porque é. de qualquer forma, o que impressiona não está na água, mas na vida que ela traz. a realidade da narradora chega ao leitor na forma de discurso - o que, de resto, é o que se passa com tudo o que é escrito. (discurso, escrito ou não, é sempre morto). assim, realidade se transforma em visão de mundo, que é o que acontece na representação. porém, é uma visão de mundo que parece surgir na seqüência em que imagina-se o pensamento brotando. que bom se fosse possível de fato falar o processo (e não dele!) de ver dentro aquilo que a gente vê dentro... aí está o mistério de 'água viva', que chega muito perto da própria substância recém-nascida na nossa paisagem mental, aquilo que os discursos tentam significar na sua justaposição de palavras - e o fazem tão parcialmente. a própria substância viva, quase como se não houvesse palavra.

Saturday 18 August 2007

fui pensar numa solidão em mim. fui pensar logo nessa possibilidade - estou sem namorar há anos - e agora me sinto mesmo muito sozinha. eu, tão auto-proclamada antisocial, dizendo em alto e bom som que não sei me relacionar e não atendendo às pessoas e explicando que dificilmente ligarei, porque eu não sou ninguém de ligar. alardeando a minha impossibilidade.
e poderia agora lançar mão de imagens de diques sendo construídos em torno de uma fortaleza para preservar em seu interior qualquer coisa, ou outro cliché qualquer, uma metáfora, mil palavras, mil e uma, mas não tenho vontade de fazer a cosmética de mim mesma, muito menos com uma maquiagem barata. o engraçado é que outro dia sonhei que disparava correndo na rua, e achava impressionante que o fizesse.

 
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